terça-feira, 25 de maio de 2010

Manchetes sobre a morte de Olavo Bilac(continuação1)

"Morreu Olavo Bilac, o príncipe dos poetas brasileiros! A notícia assim dada desdobra logo à imaginação de quantos a lê os painéis de uma vida toda voltada ao culto da Arte, à Beleza e aos ardores de um patriotismo ardente e fecundo. Não há, entre os poetas contemporâneos patrícios, nenhum que tenha logrado o renome e a popularidade de Olavo Bilac.
Nascido em 1865, o seu talento nasceu precisamente num período de transformações literárias, filosóficas e políticas, tendo Olavo Bilac conquistado a situação de maior relevo. Seus primeiros versos, que constituem a parte inicial das "Poesias", produziram sucesso excepcional (...)
A sua poesia, aproveitando a plástica, proclamada pela escola, não perdeu a vivacidade, a exuberância, o fervor que constituem a eminência essência dos nossos pendores artísticos. "Sarças de Jogo" são um formoso exemplo. O seu "Julgamento de Phynéa" é uma obra prima, nessa feição. O aparecimento dessas poesias marcou desde logo rumo novo nas letras nacionais. Por aqueles tempos, obstinadamente românticos, os escitores e poetas novos guardavam ainda a maneira boêmia, aprendida nos romances de Murger. O grupo era numeroso. Fazia-se Arte no fundo dos botequins e cervejarias. Coelho Netto, Patrocínio, Aluisio Azevedo, Raul Pompéia, Olavo Bilac, Guimarães Passos, Luiz Murat, Arthur Azevedo, Valentim Magalhães e outros, compunham jornais e revistas boemiando. (...)
Surgira a questão formidável da Abolição, empolgando os espíritos. Não havia hesitar e Bilac, com seus companheiros, foi colhido no tumulto libertário. (...) Republicano por temperamento, Olavo Bilac via na proclamação de 15 de novembro a realidade num sonho seu. Daí empenhar-se nas lutas consequentes da Revolta de 6 de Setembro, fugindo - sob ameaça de prisão, ou ainda pior - para Minas, de onde mandava logo depois as lindas crônicas que formam a melhor parte do seu livro "Crônicas e Novelas" e onde colheu o tema para esse admirável, esse legítimo poema nacional "O Caçador de Esmeraldas". (...)
Cronista, Olavo Bilac deu à "Notícia" o brilho inexcedível da sua colaboração durante anos, escrevendo diariamente "O Registro". Ultimamente afastara-se de imprensa. Estavam errados os que acreditavam que a atividade maravilhosa de Olavo Bilac calara-se. No silêncio do seu gabinete, o poeta admirável comounha sem tréguas. (...) Recordando aqui, nas atropeladas palavras que a notícia da morte de Olavo Bilac nos permite escrever, a personalidade excepcional desse grande poeta, queremos deixar nas páginas do jornal que ele tanto ilustrou com o ouro admirável de seu talento, as provas legítimas da nossa dor e da nossa grande e irreparável saudade. (...)" A Notícia, 28 de dezembro de 1918.
"Aquela célebre frase de "vão-se os deuses!" o destino quiz contrapor, na maior das crueldades, a de "vão-se os poetas!". Hontem, foi Rostand que, com a sua morte, enlutou toda a França, que tão gloriosamente cantara; hoje foi Olavo Bilac, que, no seu leito mortuário, enche de sombras os céus da literatura brasileira, onde, com os fulgores do seu talento privilegiado, figurava como astro de primeira grandeza, intangível e inconfundível.
Ourives da forma, esmerilhador de idéias, lapidador de conceitos, era a sua cerebração uma das mais raras que a poesia contemporânea nos podia oferecer. Os seus versos correm de boca em boca, em língua portuguesa e em várias traduções, e os sonetos que o seu estro brilhante soube transmitir à posteridade, envoltos em uma aureola de incomparável esplendor e perfeição, serão o eterno movimento erguido à sua memória, levantado por suas próprias mãos, para seu maior renome e orgulho das letras patrias. (...)
Foi realmente fecunda a vida do glorioso poeta. No verso como na prosa, na tribuna das conferências como nas colunas dos jornais e ainda na fiscalização do ensino - em tudo foi uma existência brilhante e encantadora. (...) Bilac, sabe-se, trabalhava há dezesseis anos, em um dicionário analógico, do qual, dizia o poeta, seria a sua grande obra final de poeta. (...)
Estava resolvido hoje, pela manhã, que a Academia de Letras faria o enterro. No entanto falava-se que também a Liga de Defesa Nacional tencionava oferecer-se para tal, como uma homenagem a quem despertou o coração da mocidade brasileira em S. Paulo, depois pronunciando discursos de pura fé patriótica e entranhado amor ao Brasil." A Noite, 28 de dezembro de 1918.

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